quarta-feira, 17 de junho de 2015

"Precisa-se de alguém que precise de mim" - Dependência entre pais e filhos


Olá pessoal!

Na semana passada escrevi sobre a Superproteção, como ela afeta as crianças e até os adultos que foram acostumados a ficarem longe do risco que novas aprendizagens oferecem.
No post dessa semana quero continuar com esse assunto, respondendo a um dos motivos pelos quais as mamães superprotegem seus filhos. O motivo pode estar associado à carência de afeto da pessoa que superprotege e à necessidade dela de ter sempre alguém por perto.
Você já conheceu alguma pessoa que gosta de fazer muitos favores, de se colocar à disposição pelo prazer de ser útil? Sem que essa pessoa perceba, tais atitudes geram a sensação de que ela será recompensada pelo o que fez: com a presença, o carinho e o reconhecimento de quem recebeu o favor. Essa expectativa é compatível com uma "falta" existente na vida dessa pessoa. Essa lacuna pode ser facilmente preenchida quando alguém precisa muito da sua ajuda e dos seus serviços, e então há de quem se esperar amor. Na vida das mães, as crianças acabam correspondendo inconscientemente à "falta" da mãe.

Qual a consequência disso?

A criança se torna uma criança-sintoma, porque "denuncia" a carência dessa mamãe que precisa o todo tempo de alguém que precise dela. A criança se encaixa na vaga: "Precisa-se de alguém que precise de mim!". Para corresponder à essa falta existente na mãe, a criança continua perpetuamente infantil, necessitando de ajuda para comer, se limpar, tomar banho, escolher a própria roupa, se vestir, entre outros. Dessa forma, fica "combinado" inconscientemente que a criança continua dependente e o adulto prossegue gastando sua vida 24h cuidando da criança que já não precisaria de atenção constante. 
A criança estará, assim, tampando essa falta que existe no adulto responsável por ela, ou até afastando o adulto de pensar em uma série de coisas que lhe são desagradáveis na própria vida (solidão, desamor, decepções, como está o relacionamento com o parceiro e com os outros membros da família, vida profissional, etc). 
No caso da superproteção, a mãe toma partido de tudo o que está relacionado ao filho (nos bons e nos maus momentos, inclusive no relacionamento do filho com outras pessoas).


Há um segundo caso igualmente interessante entre mãe e filho, em que o filho é colocado como aquele que complementa as características da mãe. Exemplo: Uma mãe é alguém que tem dificuldades para argumentar e expressar seus sentimentos, e o filho (que pode ser adolescente, adulto, não pense que acontece só com crianças) consegue se desenvolver de maneira razoavelmente independente. Ele se torna o escudo da mãe nas situações em que ela tem dificuldade de se defender ou se expressar. Do mesmo modo que o primeiro caso, ele é convidado a ocupar o lugar da "falta", sendo aquele que complementa a mãe. 
A pessoa entra nesse acordo inconsciente quando realmente faz as vezes da outra, respondendo ao que não é seu, mas diz respeito à essa segunda pessoa (no exemplo, a mãe),  se mostrando como a solução dos seus problemas, se colocando na frente dela nas situações estressantes, comprando a briga dela com outras pessoas, como se fossem duas pessoas (mãe e filho) em uma só. O filho desse exemplo ficará numa posição ilusória de "salvador" e passará a ocupar um lugar que não é seu na família.


Como se resolve essa situação então?

A análise ou a psicoterapia auxiliam no caso de adolescentes, adultos que vivem nessa "armadilha" de ser o complemento de alguém. É fortemente recomendado que na análise de crianças que estão apresentando conflitos em casa, na escola, os pais participem também do processo, sendo orientados, ou que iniciem uma análise em separado para dar conta de seus conflitos individuais, porque as lacunas afetivas na vida dos pais influenciam no desenvolvimento dos filhos. Dar atenção a quem cuida é tratar de quem é cuidado.


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