Eu
falo dos objetos concretos mesmo: móveis, livros, roupas, um vidro de perfume, uma
flor recebida, a foto de um momento feliz, de alguém que deixou saudades. Você
já reparou o quanto o exterior à sua volta representa o que existe no seu
interior em sentimentos e memórias?
Alguns
ícones materializam o que se tem de mais precioso
e íntimo, algo que é difícil de nomear
ou colocar em palavras. O indizível é concretizado no objeto pelo qual se
guardam lembranças. É uma forma de eternizar um momento especial.
O
apego tem muito a ver com isso. Olhar para um objeto que carrega uma história é
o mesmo que revisitar algo que já foi, mas que continua presente. Cada objeto faz papel de símbolo, dizendo até o
que está além do visível: o objeto vale
aquilo que ele representa.
Onde há apego, existe resistência= re-existência, querer se fixar em uma determinada forma passada de viver.
É
justamente o significado que marca: que sentimento seu está representado
nos objetos?
As
pequenas coisas é que são grandes, porque grande mesmo é o sentimento envolvido.
Penso que esse processo de perceber o
valor dos objetos está muito ligado a processos de mudança.
Mudança
de casa, para outra cidade, mudança interna de vida, novos projetos ou envelhecimento.
Repare na mudança do seu guarda-roupa com o passar dos anos... Ele te diz que é preciso deixar algumas coisas para se acostumar a outras com o tempo.
Às
vezes você se depara com um objeto que está há um tempo guardado no armário e
pensa “Eu guardo isso? Para quê?” O sentido daquilo se foi, não há mais razão
de ser.
De qual material é feito o que você guarda? De lembranças? De expectativas? De
sonhos?
Existem
aqueles que aos poucos tentam criar uma nova vida: aquele que limpa o
armário e a partir de hoje quer fazer uma nova história, ter novas lembranças.
Tem
a realidade do velhinho que depois de perder as forças, não decide mais sobre a
sua vida; então é obrigado a se desfazer da sua casa e ir morar com outras
pessoas. Vai para a casa do filho, para o asilo, para uma vida um tanto
diferente, perdendo aquele cenário “tão
seu” que o cantinho individual oferecia.
O
importante é perceber o quanto esses objetos são, além de matéria concreta, sentimentos
valiosos. O perfume vai acabar, o vidro, se quebrar, os móveis podem ser
vendidos, a roupa vai se desgastar, o livro e a foto um dia serão consumidos
pelo tempo, a flor recebida vai murchar ou se perder, e o que vai restar?
Então, eu mudo a pergunta: O
que você guarda na mente e no coração que gostaria de eternizar?
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