quarta-feira, 18 de março de 2015

Por que psicólogo não pode atender familiares e amigos?

Uau! Muita gente pergunta isso. Se você já ficou curioso pelo tema, agora é hora de acabar com as suas dúvidas!
O psicólogo é procurado para atender demandas diferentes de muitas pessoas, de várias idades, mas não pode atender pessoas que ele conhece, como familiares e amigos. Esse cuidado existe para não prejudicar os objetivos do atendimento.
Imagine que eu atenda algum parente meu e durante a análise ele diga de lembranças dele sobre mim, de sensações que ele tem sobre a nossa família. Seria muito difícil não se envolver. Eu poderia falar de impressões minhas também e dirigiria o atendimento para outro rumo, diferente do que o paciente escolheu. Essa mistura do que é meu e do que é do outro minam o processo dele de autoconhecimento, porque eu entraria colocando todos os meus conteúdos que não dizem respeito a ele. 
A neutralidade é algo fundamental. Se o profissional ouvir comentários a respeito de pessoas que lhe são íntimas, a chance de desviar do objetivo é grande. Seria mais difícil analisar de forma clara, imparcial, técnica o que se passa na vida do paciente. O desejável é que a própria pessoa consiga se observar, começar a se enxergar a partir do que sente e pensa. 
Se o psicólogo precisa enxergar além das palavras e das aparências, como ter visão de algo em que ele está envolvido pessoalmente? Será tendencioso. 
Principalmente no atendimento psicanalítico, a transferência é analisada. Transferência é um fenômeno inconsciente que acontece na relação paciente - psicólogo, em que o modelo de relação (sentimentos, desejos, expectativas, afeto) do paciente nas primeiras relações da infância são atualizados na relação com o psicólogo. Essa transferência precisa acontecer. A Contratransferência seria a resposta do psicólogo à transferência do paciente, mas que deve ser superada para dar continuidade natural ao atendimento. Na situação de atender amigos e parentes, isso se quebra, pois o psicólogo em vez de superar, poderá entrar em disputa com que o paciente sente e demonstra inconscientemente.

Ainda não acabou. Outra possibilidade seria o psicólogo fazer perguntas de assuntos muito íntimos do paciente, dos quais este ainda não deseja falar e acabar indo além do que deveria para o momento. Há áreas que o paciente pode não estar preparado para "visitar" dentro dele ainda. Vamos com calma.

Por tudo isso não seria ético.

Assim como o psicólogo não deve atender conhecidos, também não é indicado atender duas pessoas da mesma família, por exemplo: mãe e filha. Da mesma forma, esse contato duplo contaminaria a escuta do profissional. Primeiro que seria tentador incluir os fragmentos da fala de uma delas na história que a outra relata na sessão. Já pensou tomar partido numa briga das duas e deixar ficar claro isso no atendimento? Tirar satisfações por algo que a paciente fez ou deixou de fazer porque a outra está irada com ela por isso? No mínimo, desagradável. rs Então, vamos separar as coisas.


Além disso, eu preciso conhecer o paciente por ele mesmo, não posso me guiar mais pela fala de outrem do que por ele próprio e seu mundo pessoal; ele é o foco e nós vamos descobrindo suas nuances e características pessoais durante os atendimentos: é uma jornada incrível! 
No atendimento individual, é possível chamar um dia alguém da família para agregar no atendimento. O intuito é colher informações importantes do paciente; a autorização para o atendimento a menores de idade (no caso de crianças e adolescentes no início do atendimento -  a primeira entrevista é com os responsáveis e, para as crianças, os pais podem receber devolutivas ao longo do processo); ou porque o paciente precisa de acompanhamento familiar constante (por motivo de saúde mental ou física) e então seria interessante conhecer quem é essa pessoa que o apóia.
Se você me perguntar: e se fosse atendimento familiar? Aí é diferente, pois seria atendimento em grupo e propositalmente todos seriam atendidos juntos.
Tudo certo agora? Entendido? Estou de bem com todo mundo?rs Como disse no início, esses cuidados existem para não prejudicar o atendimento. A ética vem para nos ajudar.

Um comentário:

  1. bem, foi o que imaginei,isto é, mãe sendo atendida p um psicanalista e tem uma filha jovem que está sendo atendida numa terapia familiar c abordagem sistêmica. A mãe já acostumada com seu psicanalista qdo chega na familiar toma o espaço da filha, como que dando continuidade ao processo psicanalítico.A filha deseja sair da familiar e ser atendida individualmente, pois não acredita em resultados positivos onde possam melhorar a relação conflituosa entre elas.































    pelo que entendi minha filha, se for o caso, deve procurar um psicólogo que não seja o psicanalista da mãe. Está correto? Seria essa a decisão a ser tomada? Aguardo retorno e obrigada pela sua colocação que achei esclarecedora. Parabéns!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

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